sexta-feira, fevereiro 15, 2008

Reportagem Mais Futebol: Clube Académico de Futebol

«Em Janeiro de 2006 acabou tudo: futebol, andebol, basquetebol, etc».
As muitas dívidas do Académico de Viseu levaram à extinção do clube que, na verdade, só agora tem o nome da capital beirã. Naquele mês de 2006, o Clube Académico de Futebol (CAF) deu o último suspiro dos seus 92 anos de vida. Mas, curiosamente, ao contrário do que é comum dizer-se, «o CAF não acabou por causa do futebol».

«A insolvência é pedida por duas funcionárias da natação. Não é através das dívidas do futebol, como se esperava. As piscinas do Fontelo entraram em obras e o CAF teve de abandonar o projecto que tinha. Essas duas funcionárias foram para o desemprego. Entretanto, elas recorreram ao tribunal, que lhes deu razão, e foi pedida a insolvência por causa dessa situação», conta José Monteiro, antigo, e actual, director do futebol dos viseenses.

O dirigente explica que «havia dívidas aos jogadores, sobretudo ao Paulo Ricardo», futebolista que passou pelo clube no início da década de 90 e a quem o CAF tinha uma indemnização a pagar (cerca de 200 mil euros mais uma prestação anual até aos 65 anos). «A situação das funcionárias chegou mais cedo, mas íamos ter o mesmo problema com o Paulo Ricardo, pois nunca chegámos a acordo com ele. Não havia mais nada a fazer», explica José Monteiro. Todas essas situações fizeram com que o clube não pudesse receber quaisquer subsídios.
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Benfica, F.C. Porto e Sporting salvaram as camadas jovens
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Apesar da insolvência se ter dado em 2006, a última época do Académico de Viseu, ou melhor, CAF, foi em 2004/05. Nessa altura, o clube andava pela II Divisão B, longe do escalão principal onde esteve por quatro vezes . CAF fez um campeonato acima das expectativas e nos lugares cimeiros, com o estreante Rui Bento ao comando. Só que o Académico tinha um futuro negro à frente. Tão negro como a cor das camisolas.
«Estávamos com o processo do Paulo Ricardo, que nos impediu de inscrever a equipa para a época seguinte. Só ficámos com as camadas jovens.» Mas até essas acabaram. «Foi muito complicado, foi das coisas mais difíceis que nos aconteceu. Como é que íamos explicar aos miúdos que não podiam jogar futebol? A única coisa que conseguimos foi fazer jogos-treino com o Benfica, o Sporting, o FC Porto, que acederam aos nossos pedidos. Ninguém aceitou bem esta decisão, nem nós, nem os pais. Mas só três jogadores mudaram de clube. Na época seguinte, já como Académico de Viseu Futebol Clube, os juniores e os iniciados subiram ao Nacional e ainda lá estão.» A deixa de José Monteiro leva-nos ao novo Académico, que é, ao mesmo tempo, a morte de um outro clube do concelho, o Grupo Desportivo de Farminhão.
Os dirigentes assumiram que o CAF ia desaparecer, mas, ao mesmo tempo, não queriam que o Académico fosse apenas uma memória. Por isso, esforçaram-se para ressuscitar o clube. «Foi feito um protocolo com o Farminhão e criou-se o Académico de Viseu Futebol Clube», relembra José Monteiro, explicando que não se tratou de uma cedência de direitos. «Só alteramos o nome, a sede passou a ser em Viseu e recomeçámos na distrital.» Do CAF restam agora as tradições, as cores, o símbolo e as memórias. Já a paixão passou para o novo clube, hoje na Série C da III Divisão.
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Ainda é possível ver o Fontelo engalanado
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Já não enche, é verdade, mas dizem os dirigentes que o Municipal de Viseu ainda recebe muita gente nos dias em que o Académico joga. Longe vão os tempos de Leal, João Luís e Amaral, jogadores que passaram pelo clube e chegaram ao Sporting. Paulo Gomes (Penafiel, ex-U.Leiria e Paços de Ferreira), Luís Vouzela e o mítico Zé de Angola foram outros nomes sonanes do emblema viseense, que diz quem viu de perto, tinha das melhores assistências do futebol português.
«O Fontelo tinha sempre muita gente. O Académico esteve quatro vezes na primeira divisão, mas o estádio estava quase sempre cheio», recorda o director-desportivo José Monteiro, de 42 anos, que acredita ser «possível voltar a ter grandes casas no Fontelo».
«Esta época já tivemos jogos com três mil pessoas e estamos na III Divisão. O Académico de Viseu é o maior clube do distrito. Vamos em mil sócios, tantos quanto tinha o CAF quando acabou. Se subirmos este ano, esperamos que esse valor duplique», conta o dirigente, entusiasmado.
Os viseenses apostam na subida à II Divisão já este ano e esperam evitar os erros do passado. Ou seja, há que apostar forte no distrito: «O Académico de Viseu deve sempre apostar na formação. Há jogadores que terão de vir de fora, mas devem ser quatro, cinco no máximo. Mas 80 por cento do plantel do Académico é da zona de Viseu. Vêm de Tondela, Mangualde, Nelas, etc. Temos de fazer um apanhado dos melhores do distrito.»
A intenção é simples, tentar fazer um conjunto tão bom como aquele que ascendeu à primeira divisão em 1987/88. «A melhor equipa do Académico foi a que subiu pela última vez. Tinha o Leal, o João Luís, o Delgado, o Sardinha, o Quim entre outros. E tinha o Carlos Alhinho como treinador. Era uma equipa fabulosa.» E enchia o estádio.
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Ac. Viseu, ex-campeão do Mundo lembra «equipa fantástica»
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Mesmo ferido de morte, o Académico de Viseu esteve quase a subir de divisão, na última época que realizou enquanto CAF. Na II Divisão, em 2004/05, um antigo campeão do mundo (Lisboa, 1991) levou a equipa ao terceiro lugar da Zona Centro. A Liga de Honra, e o Sp. Covilhã, ficaram a apenas cinco pontos. Rui Bento tinha acabado de sair do Sporting, onde fora campeão como jogador, tal como no Boavista e no Benfica. Tempos em que tinha todas as condições, ao contrário da estreia como treinador.
«Foi difícil. Foi uma situação complicada, mas em termos de experiência foi excelente. Houve união de toda a gente. Os jogadores formaram um grupo fantástico. Houve pessoas que passaram por dificuldades, mas é uma equipa que vou recordar para sempre. O que trouxemos de Viseu foi isso: gente que foi capaz de dar tudo», contou o treinador.
Recuar aos tempos do Académico é, para Rui Bento, lembrar como se consegue dar a volta por cima na vida: «Fui convidado para o CAF com os jogadores já escolhidos. Depois chegaram alguns, como o Cajú. Em termos desportivos, poucos foram aqueles que não lucraram com a passagem por Viseu. Apostaram todos em jogar e melhorar a própria situação profissional. Todos conseguiram. Nunca me vou esquecer daquela equipa. Foi uma grande lição de vida para todos.»
Naquela época, também houve quem pensasse em não actuar, em reclamar o que faltava. Não era o sair à rua, antes ficar em casa como forma de protesto. No entanto, os jogadores apareceram sempre. «Houve algumas ameaças de greve, havia problemas para resolver, mas também existiu muita união», conta Rui Bento, declarando até que «o enquadramento do balneário era o ideal para ter sucesso». Já quanto às greves: «Eles pediam-me a opinião. Eu sempre disse que o que eles decidissem estava bem. Alertei para a situação de estarem sem competir e decidiram continuar.»
Por fim, Rui Bento voltou à ideia de que, onde quer que vá, espera encontrar no balneário os rostos que viu em Viseu: «Ainda mantenho contacto com alguns jogadores. Estive em muitos grupos mas aquele era muito forte. Gostaria de ter aqueles jogadores e aquela forma de estar em todos os clubes em que passei.»
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Nem Deco, Petit ou os Xutos salvaram o Ac. Viseu
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A última época do CAF tem a impressão digital de Jorge Mendes, o empresário que levou Deco para o Barcelona, Cristiano Ronaldo, Anderson e Nani para o Manchester United, e que representa alguns dos nomes mais sonantes do futebol mundial. No entanto, nem a empresa do agente FIFA, a Gestifute, conseguiu salvar o Académico.
«Esse projecto não singrou porque começaram a haver todas estas situações. A ideia da Gestifute era fazer aqui uma boa equipa. A ideia era o clube servir para eles rodarem jogadores. Ou seja, o CAF seria um interposto para esse atletas», revela o director José Monteiro. Pelo clube andavam, na altura, jogadores como Chicabala e Cajú. Esse mesmo, que jogou ao lado de Deco no Alverca e também chegou ao F.C. Porto.
«O Jorge Mendes entrou no Académico com esse projecto, mas depois, quando começaram a surgir os problemas, ele abandonou-o, claro», acrescenta o dirigente viseense. Os problemas do Académico tinham longa data e desde meados dos anos 90 que o clube arranjava as mais variadas formas de angaria dinheiro: «Durante essa década fizemos vários concertos. Tivemos os Xutos e Pontapés, os James, o Netinho, etc.» De pouco valeu.
Por fim, Deco e Petit, jogadores de Jorge Mendes, vieram ajudar o Académico. «No final, houve um jogo de angariação de fundos, entre os amigos do Petit e do Deco, englobado no projecto da Gestifute».lembra José Monteiro. Curiosamente, esse foi o último jogo organizado pelo CAF no Fontelo. E a receita foi o último dinheiro que os jogadores profissionais viram ao serviço do clube. Depois disso, chegou o fim e todos ficaram livres.
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Reportagem "Desaparecidos" do Site "Maisfutebol"

3 comentários:

Anónimo disse...

É uma historia triste, é a nossa história e não devemos ter vergonha dela.
Ouve incompetencia, nas nossas direcções, esperemos só que tenhamos aprendido com os erros e agora sim, com todas as condições e mais algumas construir um grande clube, clube de primeira divisão.
2000 sócios para o ano, será que não é estar a pensar pequenino???? eu pensaria em 4 ou 5 mil socios, basta dar algum tipo de beneficios ao socios na cidade de viseu, descontos em determinadas bombas de gasolina da cidade, hipermercados, piscinas, ginásios, restaurantes, discotecas, enfim todo o tipo de vantagens era bem vindos para chamar as pessoas da cidade ao académico.Encher aquele estádio de publicidade, o syte...!
Claro que isto exigiria muito trabalho da parte da direcção, mas com pessoas competentes, mesmo que sejam funcionários a tempo inteiro dariam muito lucro ao académico.
Força académico, oportunidade como esta não vamos ter nunca mais, ou agora ou nunca!!!
Sprees

sexta-feira, 15 fevereiro, 2008
Anónimo disse...

Certo na época passada já só tiveram o seguintes resultados (não desportivos):

Défice corrente de 59.671,15 e um déficite global de 79.310,41 euros.

Resolvidos assim - "só possível de cobrir com entradas da equipa directiva" - (1) O actual presidente adiantou 73.143,50€.
Das contas temos que os Donativos e Subsídios foram 65.741,35 e 106,471,35€. Se assim continuarem irão longe.

1- Relatório de Actividades 2006/2007

FAC

P.S. - E não cumpriram nenhuma das contrapartidas acordadas com o G.D. Farminhão. Cl. 9º do Protocolo.

domingo, 17 fevereiro, 2008
João Nunes disse...

Passados tempos conturbados, continua a inveja. Olhando para o site do Maisfutebol, podemos ver os comentários nojentos dos farminhólicos anónimos.

Felizmente o clube tem os seus espiões internos, e no comentário anterior, fomos dispensados de ir á próxima assembleia geral, porque alguém honrado, decidiu colocar as contas á mostra. Serão verdadeiras, ou é apenas mais um bluff farminhólico?

segunda-feira, 18 fevereiro, 2008