Calico em entrevista
Foto: Viseu Desportivo
Depois
de uma pré época positiva, levando a crer que seria titular, começaste a época
no banco. Sentiste-te injustiçado?
Penso que não se trata de uma questão de justiça ou
injustiça. Numa equipa de futebol os papéis devem estar bem definidos, o
treinador “manda” e o jogador “obedece”. Como tal, enquanto jogador,
concordando ou não, respeitei a decisão do treinador e continuei a ser eu
mesmo, trabalhando todos os dias esperando por uma nova oportunidade. Sabia que
quando essa oportunidade surgisse teria de corresponder e, felizmente, foi isso
que aconteceu.
Sentes
que esta foi a época da tua afirmação como jogador e líder de balneário? O
facto de teres sido “só” central beneficiou-te?
Felizmente tive a oportunidade de jogar regularmente numa só
posição e naquela que considero que posso render mais, o que me possibilitou afirmar-me
definitivamente como central. Foi um ano extremamente positivo a todos os
níveis, não só a nível individual mas, principalmente, a nível coletivo.
Cada jogador é líder à sua maneira e não me considero um líder
de balneário, mas sim alguém que procura ser sempre um exemplo para os colegas,
motivando-os e incentivando-os a serem sempre melhores em cada treino e,
principalmente, defendendo até ao limite as cores do Académico. Se isso faz de
mim um líder? Não sei!
Na
última entrevista que nos deste, e sobre o facto de um dia poderes vir a ser
capitão, disseste que um capitão vê-se pela “postura e não por ter uma fita no
braço”. Agora que já tens a “fita no braço” diz-nos, como é ser capitão do
Académico de Viseu?
Convém referir que não sou “o capitão” do Académico, mas sim um
dos capitães do Académico tal como o Augusto, Álvaro, Rui Santos e Vouzela. Já
tive a oportunidade de dizer anteriormente, a minha postura não se alterou por
ter ou não a “fita”. Nos jogos em que o Augusto ou Álvaro jogaram, eu não tive
a braçadeira e mantive sempre a postura. Respondendo concretamente à pergunta,
é um orgulho muito grande ser um dos capitães do Académico de Viseu. Todos nós
procurámos e procuraremos transmitir aos jogadores de fora de Viseu e aos mais
jovens, o que é o Académico e o que é jogar “à Académico” e, felizmente, este
ano deu resultado!
O
Académico tinha 4 pontos de avanço – na segunda fase – e com dois jogos em casa
os adeptos esperavam o “arranque final” rumo à subida. O que aconteceu nesses
dois jogos?
O nosso exemplo é apenas mais um do que já se viu este ano na
alta roda do Futebol, como com Benfica ou Manchester United. No entanto, nós
tivemos a força suficiente para conseguir ultrapassar essas adversidades e
responder de forma categórica com 3 vitórias nos últimos 3 jogos.
Não encontro uma explicação possível para o sucedido, mas convém
não esquecer um facto muito importante que à maioria dos adeptos mais
fervorosos passa despercebido, é que o Académico nesses dois jogos não jogou
sozinho. Defrontámos duas equipas como a Sampedrense e o Nogueirense, que nos
colocaram inúmeras dificuldades as quais não conseguimos vencer. Ainda assim,
este ano sempre tivemos uma máxima, “quando não se pode ganhar, não se perde” e
esses dois pontos conquistados foram importantíssimos para a conquista do
título.
A
derrota no terreno do Bustelo deixou os adeptos completamente desmoralizados e
sem fé na equipa. E a equipa como ficou?
Lembro-me perfeitamente dessa semana. Penso que foi a semana
decisiva para o nosso “desfecho”. A equipa ficou arrasada, como é óbvio, mas
essa derrota permitiu que conversássemos, debatêssemos situações que não
estariam a correr da melhor maneira e, fundamentalmente, demonstrou que éramos
um grupo muito unido em que todos coadunavam de um sentimento comum, o de “
sermos campeões”. Recordo-me de durante essa semana falarmos e comentarmos que
“ agora é que vamos ver se somos feitos da mesma matéria de que são feitos os
campeões” e felizmente tudo correu da melhor maneira. Todos nós sabíamos que
nos momentos de maior “aperto”, a equipa tinha correspondido sempre, como foi
no fim da primeira fase em que tínhamos de, em 2 jogos (Alba e Penalva), fazer
4 pontos para garantir o acesso à segunda fase. E assim foi, fomos para Avanca
com o pensamento de vitória e vencemos categoricamente.
É
justo dizer-se que o teu golo em Avanca foi o momento mais determinante para a
subida de divisão?
Penso que não. É claro que foi um golo importante num jogo muito
importante, mas nada faria sentido se em todos os 29 jogos anteriores a equipa
não tivesse correspondido. Cada golo que fizemos ao longo de todo o campeonato
foi determinante para a conquista do mesmo. O campeonato foi disputadíssimo até
ao final em que cada ponto e cada golo fizeram a diferença, daí defender que,
do primeiro ao último golo do campeonato, a relevância dos mesmos foi igual.
Sétima
época nos seniores, terceira subida de divisão. Qual foi a mais saborosa?
Vencer pelo Académico de Viseu é, e sempre será, saboroso. Cada
subida foi preponderante em momentos distintos da “vida do clube”. Todas elas
foram conquistadas com muito empenho e sacrifício, em que no final sentimos que
cada segundo passado durante os 10 meses fizeram sentido. Cada noite sem
dormir, cada alegria, cada golo festejado, cada golo lamentado, cada rizada,
cada desavença fizeram sentido. É lindo subir de divisão e principalmente com o
clube do nosso coração.
Vês-te
no Académico “para sempre” ou tens outro tipo de ambição?
Independentemente do que acontecer daqui para a frente, o
Académico de Viseu será sempre o clube do meu coração. Como ambicioso que sou,
pretendo e procuro sempre mais e melhor para mim. Na minha opinião, no futebol
ou na vida, seremos cada vez melhores se não nos “acomodarmos” aquilo que já
alcançámos. Claro está que, se poder atingir outros “voos” com o clube do meu
coração, seria uma enorme felicidade para mim.
Na
última época subiram vários juniores para a equipa principal. O André Mateus
não fez qualquer jogo. O Vitinho jogou uns minutos. O Zito foi chamado quatro
vezes. O Jorge ficou a época toda mas não fez qualquer minuto. O que correu mal
para não haver um jogador jovem a afirmar-se na equipa?
Penso que essa pergunta deveria ter sido feita a esses jovens
jogadores. Um aspeto que deve ser realçado, é o facto do clube ter
possibilitado que 5 ex-juniores fizessem parte do plantel sénior de uma equipa
que, desde o início, vincou bem que o objetivo passaria pela subida de divisão.
Esta política deixa-me muito contente, uma vez que o futuro do Académico de
Viseu passa pelos jovens jogadores da formação. No entanto, por vezes, quando
se passa de júnior para sénior, existem jovens que “acusam” um pouco mais a
responsabilidade e sentem mais a diferença do futebol jogado. Poderá ter sido
essa uma explicação. No entanto, fiquei muito contente pela maioria destes
jovens terem conseguido, em Dezembro, ir para outros clubes que lhe permitissem
jogar com maior regularidade, a fim de ficarem mais preparados para uma nova
oportunidade que lhe será concebida na nova época que se avizinha.
Último
jogo da época em São Pedro do Sul. Bancadas quase esgotadas com academistas.
Nós gostamos muito do ambiente. E visto do relvado como foi? Porque achas que
os academistas – alguns claro – só aparecem na hora das glórias?
Curiosamente tive a oportunidade de comentar com colegas no
final do jogo esse facto. E ficámos orgulhosos de ter conseguido mobilizar
tanta gente para apoiarem o Académico de Viseu. A entrada em campo, com toda
aquela gente a gritar pelo Académico, foi um momento que jamais irei esquecer.
Acho que começámos a ganhar o jogo naquele instante.
Em Portugal o futebol é mesmo assim. Muitas das vezes são as equipas que têm de
puxar pelos adeptos. Todos nós sabemos que sempre foi assim e sempre será
assim. No entanto, ficamos muito contentes por saber que existem adeptos que
estiveram sempre, mas sempre, connosco independentemente do “momento” em que a
equipa se encontrava. Espero que esta onda de entusiasmo em torno do clube
perdure para sempre, sabendo de antemão que muitas das vezes tem de ser a
equipa a puxar pelos adeptos.
Que lindo seria ver o Fontelo bem composto e com o ambiente do
último jogo em São Pedro do Sul a cada domingo.
Somos
testemunhas – porque vemos as pessoas na bancada e porque vemos as redes
sociais – do enorme apoio vindo das pessoas que te são mais chegadas. Que quota
parte tem essas pessoas na tua carreira/sucesso?
Tenho a sorte de ter uma família e amigos que adoram futebol.
Família e amigos que me dão carinho e suportam todas as minhas frustrações e
tristezas. São essas pessoas que sempre me deram força nos momentos difíceis e
que quando parece que nem eu próprio acredito, elas vêm e dizem-me para não
desistir. Daí que cada vitória, cada alegria, faço questão de compartilhar com
eles, visto que eles são preponderantes para o meu sucesso. À minha família e
amigos, o meu muito obrigado por tudo! Gosto muito de vocês!
A
próxima época marcará o fim da III Divisão. Concordas com essa opção?
Para mim o fim da III Divisão vai trazer diversos
constrangimentos. Haverá uma discrepância muito grande a nível de qualidade
competitiva e encargos financeiros para uma equipa que suba da Distrital para
uma II Divisão e será muito mais difícil uma equipa dos Distritais subir aos
Nacionais.
Este facto vai fazer com que, no próximo ano, as equipas que
disputem a III Divisão e não façam pretensões de subir de divisão, andem o
campeonato todo no “deixa andar”, já que sabem que vão descer automaticamente
aos Distritais. No entanto, facilitará a missão das equipas que pretendam subir
de divisão.
A questão que coloco é… onde se irão encaixar os milhares de
jogadores que este ano jogaram as diversas séries da III Divisão?!
Chegou
a altura da “vingança”. Da nossa parte queremos sinceridade porque só isso nos
ajudará a melhorar. Como se portaram durante a época os adeptos e A MAGIA DO
FUTEBOL?
È como já disse anteriormente, a cultura desportiva implementada
no nosso país faz com que, na generalidade das modalidades desportivas, tenha
que ser a equipa a puxar pelos adeptos. E este ano foi isso precisamente que
aconteceu. Apesar do fantástico campeonato que fizemos, estando sempre nos
lugares cimeiros da tabela, quando a derrota surgiu, felizmente apenas 5 em 32
jogos, surgiram sempre pessoas que colocaram tudo em causa.
Felizmente existem os “verdadeiros Academistas” que sempre
estiveram connosco na vitória ou na derrota, que sempre nos deram força e nos
motivaram quando as coisas pareciam ter-se tornado mais complicadas e, a esses,
o meu muito obrigado por tudo! Recordo-me da quantidade de academistas que se
deslocaram a Bustelo e principalmente a Avanca, quando atravessávamos um
momento complicado.
Desde já, uma palavra para os jovens que formam as claques do
“Exercito 1914” e “Comando Viseense”, que fazem parte daquela percentagem de
adeptos que defino como “verdadeiros Academistas”. Tiveram um comportamento
exemplar em todos os campos a que se deslocaram, e foram preponderantes para o
nosso êxito. Gostaria também de destacar as famílias dos jogadores, muito
obrigado pelo apoio e por nos acompanharem do primeiro ao último jogo do
campeonato.
Na generalidade, considero que a massa adepta do Académico foram
autênticos “campeões”, estando presentes nos momentos mais complicados e
decisivos. Obrigado pelo ambiente bonito que criaram em São Pedro do Sul.
A MAGIA DO FUTEBOL está inserida no grupo dos “verdadeiros
Academistas”. Fez um trabalho excelente na promoção do clube e deu a conhecer a
todos as incidências desta nossa longa caminhada até à felicidade. Muitos
parabéns por todo o trabalho desenvolvido e muito obrigado a todos os membros
pelo apoio que nos foi concebido.
Entrevista realizada por José Carlos Ferreira
Entrevista realizada por José Carlos Ferreira
3 comentários:
Obrigado Capitão!!!
terça-feira, 12 junho, 2012E perguntar se continua para a proxima epoca nao?
sexta-feira, 15 junho, 2012Caro anónimo, demos a oportunidade de perguntar o que bem entendesse aqui:
sexta-feira, 15 junho, 2012http://a-magia-do-futebol.blogspot.pt/2012/06/estao-de-voltas-entrevistas.html.
Foram poucos os que aceitaram, mas depois do trabalho feito, aparece sempre algo que ficou para trás não é verdade?
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