domingo, junho 10, 2012

Calico em entrevista


Foto: Viseu Desportivo

Depois de uma pré época positiva, levando a crer que seria titular, começaste a época no banco. Sentiste-te injustiçado?

Penso que não se trata de uma questão de justiça ou injustiça. Numa equipa de futebol os papéis devem estar bem definidos, o treinador “manda” e o jogador “obedece”. Como tal, enquanto jogador, concordando ou não, respeitei a decisão do treinador e continuei a ser eu mesmo, trabalhando todos os dias esperando por uma nova oportunidade. Sabia que quando essa oportunidade surgisse teria de corresponder e, felizmente, foi isso que aconteceu.


Sentes que esta foi a época da tua afirmação como jogador e líder de balneário? O facto de teres sido “só” central beneficiou-te?
Felizmente tive a oportunidade de jogar regularmente numa só posição e naquela que considero que posso render  mais, o que me possibilitou afirmar-me definitivamente como central. Foi um ano extremamente positivo a todos os níveis, não só a nível individual mas, principalmente, a nível  coletivo.
Cada jogador é líder à sua maneira e não me considero um líder de balneário, mas sim alguém que procura ser sempre um exemplo para os colegas, motivando-os e incentivando-os a serem sempre melhores em cada treino e, principalmente, defendendo até ao limite as cores do Académico. Se isso faz de mim um líder? Não sei!

Na última entrevista que nos deste, e sobre o facto de um dia poderes vir a ser capitão, disseste que um capitão vê-se pela “postura e não por ter uma fita no braço”. Agora que já tens a “fita no braço” diz-nos, como é ser capitão do Académico de Viseu?
Convém referir que não sou “o capitão” do Académico, mas sim um dos capitães do Académico tal como o Augusto, Álvaro, Rui Santos e Vouzela. Já tive a oportunidade de dizer anteriormente, a minha postura não se alterou por ter ou não a “fita”. Nos jogos em que o Augusto ou Álvaro jogaram, eu não tive a braçadeira e mantive sempre a postura. Respondendo concretamente à pergunta, é um orgulho muito grande ser um dos capitães do Académico de Viseu. Todos nós procurámos e procuraremos transmitir aos jogadores de fora de Viseu e aos mais jovens, o que é o Académico e o que é jogar “à Académico” e, felizmente, este ano deu resultado!

O Académico tinha 4 pontos de avanço – na segunda fase – e com dois jogos em casa os adeptos esperavam o “arranque final” rumo à subida. O que aconteceu nesses dois jogos?
O nosso exemplo é apenas mais um do que já se viu este ano na alta roda do Futebol, como com Benfica ou Manchester United. No entanto, nós tivemos a força suficiente para conseguir ultrapassar essas adversidades e responder de forma categórica com 3 vitórias nos últimos 3 jogos.
Não encontro uma explicação possível para o sucedido, mas convém não esquecer um facto muito importante que à maioria dos adeptos mais fervorosos passa despercebido, é que o Académico nesses dois jogos não jogou sozinho. Defrontámos duas equipas como a Sampedrense e o Nogueirense, que nos colocaram inúmeras dificuldades as quais não conseguimos vencer. Ainda assim, este ano sempre tivemos uma máxima, “quando não se pode ganhar, não se perde” e esses dois pontos conquistados foram importantíssimos para a conquista do título.

A derrota no terreno do Bustelo deixou os adeptos completamente desmoralizados e sem fé na equipa. E a equipa como ficou?
Lembro-me perfeitamente dessa semana. Penso que foi a semana decisiva para o nosso “desfecho”. A equipa ficou arrasada, como é óbvio, mas essa derrota permitiu que conversássemos, debatêssemos situações que não estariam a correr da melhor maneira e, fundamentalmente, demonstrou que éramos um grupo muito unido em que todos coadunavam de um sentimento comum, o de “ sermos campeões”. Recordo-me de durante essa semana falarmos e comentarmos que “ agora é que vamos ver se somos feitos da mesma matéria de que são feitos os campeões” e felizmente tudo correu da melhor maneira. Todos nós sabíamos que nos momentos de maior “aperto”, a equipa tinha correspondido sempre, como foi no fim da primeira fase em que tínhamos de, em 2 jogos (Alba e Penalva), fazer 4 pontos para garantir o acesso à segunda fase. E assim foi, fomos para Avanca com o pensamento de vitória e vencemos categoricamente.

É justo dizer-se que o teu golo em Avanca foi o momento mais determinante para a subida de divisão?
Penso que não. É claro que foi um golo importante num jogo muito importante, mas nada faria sentido se em todos os 29 jogos anteriores a equipa não tivesse correspondido. Cada golo que fizemos ao longo de todo o campeonato foi determinante para a conquista do mesmo. O campeonato foi disputadíssimo até ao final em que cada ponto e cada golo fizeram a diferença, daí defender que, do primeiro ao último golo do campeonato, a relevância dos mesmos foi igual.

Sétima época nos seniores, terceira subida de divisão. Qual foi a mais saborosa?
Vencer pelo Académico de Viseu é, e sempre será, saboroso. Cada subida foi preponderante em momentos distintos da “vida do clube”. Todas elas foram conquistadas com muito empenho e sacrifício, em que no final sentimos que cada segundo passado durante os 10 meses fizeram sentido. Cada noite sem dormir, cada alegria, cada golo festejado, cada golo lamentado, cada rizada, cada desavença fizeram sentido. É lindo subir de divisão e principalmente com o clube do nosso coração.

Vês-te no Académico “para sempre” ou tens outro tipo de ambição?
Independentemente do que acontecer daqui para a frente, o Académico de Viseu será sempre o clube do meu coração. Como ambicioso que sou, pretendo e procuro sempre mais e melhor para mim. Na minha opinião, no futebol ou na vida, seremos cada vez melhores se não nos “acomodarmos” aquilo que já alcançámos. Claro está que, se poder atingir outros “voos” com o clube do meu coração, seria uma enorme felicidade para mim.

Na última época subiram vários juniores para a equipa principal. O André Mateus não fez qualquer jogo. O Vitinho jogou uns minutos. O Zito foi chamado quatro vezes. O Jorge ficou a época toda mas não fez qualquer minuto. O que correu mal para não haver um jogador jovem a afirmar-se na equipa?
Penso que essa pergunta deveria ter sido feita a esses jovens jogadores. Um aspeto que deve ser realçado, é o facto do clube ter possibilitado que 5 ex-juniores fizessem parte do plantel sénior de uma equipa que, desde o início, vincou bem que o objetivo passaria pela subida de divisão. Esta política deixa-me muito contente, uma vez que o futuro do Académico de Viseu passa pelos jovens jogadores da formação. No entanto, por vezes, quando se passa de júnior para sénior, existem jovens que “acusam” um pouco mais a responsabilidade e sentem mais a diferença do futebol jogado. Poderá ter sido essa uma explicação. No entanto, fiquei muito contente pela maioria destes jovens terem conseguido, em Dezembro, ir para outros clubes que lhe permitissem jogar com maior regularidade, a fim de ficarem mais preparados para uma nova oportunidade que lhe será concebida na nova época que se avizinha.

Último jogo da época em São Pedro do Sul. Bancadas quase esgotadas com academistas. Nós gostamos muito do ambiente. E visto do relvado como foi? Porque achas que os academistas – alguns claro – só aparecem na hora das glórias?
Curiosamente tive a oportunidade de comentar com colegas no final do jogo esse facto. E ficámos orgulhosos de ter conseguido mobilizar tanta gente para apoiarem o Académico de Viseu. A entrada em campo, com toda aquela gente a gritar pelo Académico, foi um momento que jamais irei esquecer. Acho que começámos a ganhar o jogo naquele instante. 

Em Portugal o futebol é mesmo assim. Muitas das vezes são as equipas que têm de puxar pelos adeptos. Todos nós sabemos que sempre foi assim e sempre será assim. No entanto, ficamos muito contentes por saber que existem adeptos que estiveram sempre, mas sempre, connosco independentemente do “momento” em que a equipa se encontrava. Espero que esta onda de entusiasmo em torno do clube perdure para sempre, sabendo de antemão que muitas das vezes tem de ser a equipa a puxar pelos adeptos.

Que lindo seria ver o Fontelo bem composto e com o ambiente do último jogo em São Pedro do Sul a cada domingo.

Somos testemunhas – porque vemos as pessoas na bancada e porque vemos as redes sociais – do enorme apoio vindo das pessoas que te são mais chegadas. Que quota parte tem essas pessoas na tua carreira/sucesso?
Tenho a sorte de ter uma família e amigos que adoram futebol. Família e amigos que me dão carinho e suportam todas as minhas frustrações e tristezas. São essas pessoas que sempre me deram força nos momentos difíceis e que quando parece que nem eu próprio acredito, elas vêm e dizem-me para não desistir. Daí que cada vitória, cada alegria, faço questão de compartilhar com eles, visto que eles são preponderantes para o meu sucesso. À minha família e amigos, o meu muito obrigado por tudo! Gosto muito de vocês!

A próxima época marcará o fim da III Divisão. Concordas com essa opção?
Para mim o fim da III Divisão vai trazer diversos constrangimentos. Haverá uma discrepância muito grande a nível de qualidade competitiva e encargos financeiros para uma equipa que suba da Distrital para uma II Divisão e será muito mais difícil uma equipa dos Distritais subir aos Nacionais.
Este facto vai fazer com que, no próximo ano, as equipas que disputem a III Divisão e não façam pretensões de subir de divisão, andem o campeonato todo no “deixa andar”, já que sabem que vão descer automaticamente aos Distritais. No entanto, facilitará a missão das equipas que pretendam subir de divisão.
A questão que coloco é… onde se irão encaixar os milhares de jogadores que este ano jogaram as diversas séries da III Divisão?!


Chegou a altura da “vingança”. Da nossa parte queremos sinceridade porque só isso nos ajudará a melhorar. Como se portaram durante a época os adeptos e A MAGIA DO FUTEBOL?
È como já disse anteriormente, a cultura desportiva implementada no nosso país faz com que, na generalidade das modalidades desportivas, tenha que ser a equipa a puxar pelos adeptos. E este ano foi isso precisamente que aconteceu. Apesar do fantástico campeonato que fizemos, estando sempre nos lugares cimeiros da tabela, quando a derrota surgiu, felizmente apenas 5 em 32 jogos, surgiram sempre pessoas que colocaram tudo em causa. 
Felizmente existem os “verdadeiros Academistas” que sempre estiveram connosco na vitória ou na derrota, que sempre nos deram força e nos motivaram quando as coisas pareciam ter-se tornado mais complicadas e, a esses, o meu muito obrigado por tudo! Recordo-me da quantidade de academistas que se deslocaram a Bustelo e principalmente a Avanca, quando atravessávamos um momento complicado.

Desde já, uma palavra para os jovens que formam as claques do “Exercito 1914” e “Comando Viseense”, que fazem parte daquela percentagem de adeptos que defino como “verdadeiros Academistas”. Tiveram um comportamento exemplar em todos os campos a que se deslocaram, e foram preponderantes para o nosso êxito. Gostaria também de destacar as famílias dos jogadores, muito obrigado pelo apoio e por nos acompanharem do primeiro ao último jogo do campeonato.
Na generalidade, considero que a massa adepta do Académico foram autênticos “campeões”, estando presentes nos momentos mais complicados e decisivos. Obrigado pelo ambiente bonito que criaram em São Pedro do Sul.
A MAGIA DO FUTEBOL está inserida no grupo dos “verdadeiros Academistas”. Fez um trabalho excelente na promoção do clube e deu a conhecer a todos as incidências desta nossa longa caminhada até à felicidade. Muitos parabéns por todo o trabalho desenvolvido e muito obrigado a todos os membros pelo apoio que nos foi concebido.


Entrevista realizada por José Carlos Ferreira

3 comentários:

Marco Gomes disse...

Obrigado Capitão!!!

terça-feira, 12 junho, 2012
Anónimo disse...

E perguntar se continua para a proxima epoca nao?

sexta-feira, 15 junho, 2012
A MAGIA DO FUTEBOL disse...

Caro anónimo, demos a oportunidade de perguntar o que bem entendesse aqui:

http://a-magia-do-futebol.blogspot.pt/2012/06/estao-de-voltas-entrevistas.html.

Foram poucos os que aceitaram, mas depois do trabalho feito, aparece sempre algo que ficou para trás não é verdade?

sexta-feira, 15 junho, 2012